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É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?

Realismo Capitalista: é mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?

Realismo Capitalista - Mark Fisher

Você provavelmente deve ter visto a pergunta acima em algum canal, newsletter ou podcast nos últimos dias. A indagação é o fio condutor de “Realismo Capitalista”, livro do teórico britânico Mark Fisher que traz observações a respeito da transformação global e do colapso iminente do mundo como conhecemos no último século.

Publicado pela editora Autonomia Literária, o texto traz pontos difíceis de digerir e que tomaram os meus pensamentos em uma semana que não tem sido das mais fáceis. Em especial, o capítulo a respeito da “impotência reflexiva e imobilização dos jovens”, em que o autor destaca as dificuldades em lecionar para universitários de uma sociedade britânica que há décadas produz cidadãos politicamente desengajados.

De acordo com Fisher, a forma como o sistema educacional é pensado para quantificar o sucesso a partir número de aprovações e integrações ao mercado de trabalho e, posteriormente, pela validação no acúmulo de renda e consumo, desestimula a formação de um pensamento crítico.

Somado ao fato que somos constantemente bombardeados a estímulos rápidos de prazer, temos um estado de hedonia depressiva em que até sabemos que as coisas vão mal, mas também não podemos fazer nada a respeito. O sistema “é uma profecia autorrealizável”.

Em outras palavras, tá todo mundo tão cansado e tão submisso tentando trabalhar pra sobreviver que fica difícil pensar demais, ser politicamente ativo ou tentar sair da bolha. A gente corre tanto o dia todo que mal sobra tempo pra ler um livro, estudar algo que nos interessa ou quem dera parar e analisar o que tá rolando no todo. Quando muito, nos forçamos a estudar algum MBA ou algo do tipo para resultar em aumento no salário ou benefício.

“Pague pela sua própria exploração e no que insiste essa lógica – fique endividado para que no final você acabe no mesmo McEmprego que teria caso tivesse largado a escola aos dezesseis…”

Ninguém tem mais cabeça pra pensar muito, não. No fim do expediente, só queremos mesmo nossa Comfort food, nosso videogame ou a série de 30 minutos no streaming favorito pra dormir e começar tudo de novo.

A reflexão fica ainda mais pesada quando o autor relaciona o impacto deste sistema nos mais jovens, uma geração que ainda nem entrou no mercado de trabalho, mas já sofre feito adulto com o que virá. Nunca na história tivemos tantas pessoas sofrendo de depressão, dislexia ou TDAH.

Tá todo mundo cansado de pensar, irmão.

Você vive para trabalhar ou trabalha para viver?

Os problemas são diversos, mas a origem é uma só. Já passou da hora de buscarmos por alternativas para um sistema melhor. Também não se trata de maniqueísmo ideológico. Questões como home office, jornadas de trabalho flexíveis e semanas reduzidas não são privilégios, viraram questões de saúde pública.

Os questionamentos de Realismo Capitalista me cortaram feito navalha. A vida tá puxada demais pra gente se cobrar o tempo todo. Forçar uma produtividade insalubre apenas para alimentar o LinkedIn não vai te levar a lugar algum.

Por outro lado, apenas aceitar que não há saída também não me parece uma opção. A vida é equilíbrio e isso envolve nos obrigarmos a leituras difíceis – ainda que no seu tempo.

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